"Antes de encontrar o absurdo, o homem quotidiano vive com finalidades, com uma preocupação de futuro ou justificação (não importa aqui averiguar em relação a quem ou a quê). Ele avalia as suas possibilidades, conta com o mais tarde, com a sua reforma ou com o trabalho dos filhos. Ainda julga que qualquer coisa na sua vida se pode dirigir. Na verdade age como se fosse livre, mesmo que todos os factos se encarreguem de contradizer tal liberdade. Depois do absurdo, tudo fica abalado. Esta ideia de que «sou», a minha maneira de agir como se tudo tivesse um sentido (mesmo que, por vezes, eu possa dizer que nada o tem), tudo isto se encontra desmentido, de maneira vertiginosa, pelo absurdo de uma morte possível. Pensar no amanhã, fixar um objectivo, ter preferências, tudo isto supõe a crença na liberdade, mesmo que, às vezes, as pessoas se certifiquem de que não a experimentaram. Mas, nesse momento, essa liberdade superior, essa liberdasde de ser que é a única a poder fundar uma verdade, sei então que ela não existe. A morte está ali como única realidade."
excerto retirado d' O Mito de Sísifo, de Albert Camus.
1 comentário:
é o determinismo no seu melhor. Aliás, acreditar que "somos livres" é indemonstrável. De qualquer forma, dá imenso jeito.
Ainda que umas quantas vezes deparemos com o absurdo, inevitavelmente.
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