sábado, 24 de novembro de 2007

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Palavras e Sangue, de Papini

"Eu era para ela o Universo, ao passo que ela, para mim, não passava de uma curiosidade.
O seu amor, porém, chegou a ser tão grande que o meu não pôde durar. Tenho tanto desprezo por mim próprio que não posso adaptar-me ao papel de ídolo. Irritava-me aquela apaixonada veneração que a todo o momento sentia em torno de mim. Saber que cada um dos meus actos era espiado, recordado, engrandecido, com todos os seus pormenores: que cada palavra minha era escutada, anotada, repetida, comentada e que toda a minha vida era, para outro ser, um espectáculo, ainda que fosse de glória, humilhava-me. Quero existir para mim, viver para mim; não quero que ninguém entre na minha vida, ainda que seja vestido de escravo."

(Re)Descobrir Amarante (VII)



Cumpre agora fornecer uma visão geral sobre a Igreja de S. Gonçalo.

A construção do Convento Dominicano e da Igreja anexa, em honra de S. Gonçalo, teve início em 1540, após autorização e ajuda de D. João III e de sua mulher, a Rainha D. Catarina.

O pórtico que valoriza a entrada lateral (que está na foto), bem como a fachada à esquerda, encimada pela Varanda dos Reis, é de um estilo e de uma época posterior à construção da Igreja. O traçado primitivo, da época filipina, é da autoria de Frei Julião Romero, mestre arquitecto dos dominicanos. Aliás, a varanda dos reis e a portada lateral, muito trabalhada, são dois melhoramentos posteriores para a valorização da fachada, que primitivamente era simples.

A edificação da Igreja e do Convento terminou na época de Filipe I, portanto antes de 1600. O contrato para a construção do pórtico e da Varanda dos Reis foi celebrado pelos frades dominicanos com o mestre construtor em 12 de Outubro de 1683, data em que se iniciou esta obra de valorização, portanto cerca de 100 anos depois do início da construção primitiva.

Nos próximos posts desta rubrica falarei de mais pormenores desta fachada.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Olhar (sobre) o Porto ( actualização do dia 21)

Hoje de manhã, depois da tempestade vem a bonança....
















segunda-feira, 12 de novembro de 2007

(Re)Descobrir Amarante (VI)



Esta foto foi tirada na Estação da Livração (depois duma fantástica viagem, que espero continuação em breve em direcção a Barca D'Alva ;-), na parte em que se encontram estacionadas as automotoras que fazem a ligação com Amarante. Aqui começa a Linha do Tâmega. Assim, para se chegar a Amarante por linhas de comboio, tem de se sair na Livração e aí apanhar uma automotora. Eu ainda me lembro das antigas automotoras, mais robustas, barulhentas, trepidantes e menos asseadas, que faziam a ligação entre Amarante e a Livração. Agora estas são muito mais silenciosas, e tornam a viagem muito mais agradável!

Actualmente, a linha do Tâmega só liga Livração a Amarante, mas antes continuava até ao Arco de Baúlhe. Aí vivia a minha avó materna e, por isso, uma vez fui com o meu pai de automotora até lá, e recordo o fascínio que tal viagem me provocou, tal que ainda hoje me lembro do bulício das pessoas a entrar, do dia solarengo que estava, das flores das margens. E entristece-me sinceramente que aquelas linhas estejam ao abandono e que o encerramento desse troço tenha atirado para um maior isolamento esses lugares que viviam da linha do comboio para estar no mapa. Se é verdade que agora há a ligação por via rápida entre Amarante e Celorico de Basto que demora 15 minutos de carro, também é verdade que os velhos das aldeias não conduzem; e até mesmo a penosa(!) viagem de carreira de Amarante a Cabeceiras de Basto tem horários mais escassos e não serve as populações devidamente. E assim andamos, governo após governo, promessa atrás de promessa, a enterrar povoações, a empoeirar memórias, sorrisos, a desertificar o interior!

Nota Histórica:

  • Com início na Livração, a Linha do Tâmega, complementar à do Douro, só começou a ser construída em Março de 1905 pelos Caminhos de Ferro do Estado – Minho e Douro.
  • O primeiro troço, entre Livração e Amarante, foi inaugurado em 20 de Março de 1909; o segundo, entre Amarante e Gatão, a 23 de Outubro de 1921; o terceiro, entre Gatão e Chapa, abriu à exploração a 22 de Junho de 1926.
  • Em 1927, a CP toma por arrendamento as linhas dos Caminhos de Ferro do Estado e subaluga a do Tâmega à Caminhos de Ferro do Norte de Portugal, que faz chegar o comboio a Celorico de Basto, em 20 de Março de 1932.
  • Em 1947, esta linha passa para a CP e o comboio atinge Arco de Baúlhe a 15 de Janeiro de 1949.
  • Em 1 de Janeiro de 1990, o troço Amarante-Arco de Baúlhe foi encerrado.

Para mais informações sobre esta linha, ver, por exemplo, aqui e aqui.

Citação (IV)

Desta feita não será uma citação, mas duas!
Considero-as as frases da semana, e foram proferidas por Pedro Nuno Santos (Secretário-Geral da JS), no debate que ocorreu na passada semana na FDUP, cujo tema era o papel das juventudes partidárias na sociedade actual.
As duas frases fizeram parte da resposta do dirigente socialista ao facto do Bloco de Esquerda não ter uma juventude partidária, na medida em que eles (bloquistas) defendem que toda a gente deve poder fazer política.



"Não há virgens no B.E."



"B.E. sofre do síndrome da diferença."

domingo, 11 de novembro de 2007

(Re)Descobrir Amarante (V)



  • Na 1.ª foto temos uma perspectiva da Rua de S. Pedro, uma rua íngreme, como se pode ver, e que, descendo-a e virando à esquerda, nos leva à Biblioteca Municipal de Amarante. Ainda na 1.ª foto, repare-se na casa do lado esquerdo. Nela nasceu Teixeira de Pascoaes, em 2 de Novembro de 1877. Na parte frontal da casa encontramos uma placa evocativa deste acontecimento (2.ª foto), e que nos faz olhar para aquela casa de outra forma.
  • Na verdade, muitas crianças da paróquia de S. Gonçalo lembrar-se-ão daquela casa, não tanto por ali ter nascido o mais conhecido poeta amarantino, mas por lá terem tido catequese e brincado enquanto esperavam pelos seus pais. Aliás, faço parte dessa geração! Lembro-me dos dias de chuva em que ficava retida no rés-do-chão até que me viessem buscar de carro; lembro-me dos dias de sol em que um calor agradável ajudava ao encontro catequético; lembro-me dos interessantíssimos debates estimulados pela minha catequista D. Cândida, numa sala do fundo no 1.º andar, os quais ainda agora relembro e cuja liberdade de pensamento ainda tento manter; lembro-me da alcatifa que acompanhava as escadas e de as percorrer num ápice quando já ia atrasada; lembro-me de conhecer amigos que ainda mantenho.
  • E é precisamente por esta casa povoar a minha memória e por achar que muitos amarantinos não sabem o significado da mesma, que decidi postar fotos dela.
  • Esta casa, antes de servir de sítio para a catequese, era residência paroquial do Sr. Padre Morais, que entretanto foi substituído nestas lides. Já quando lá tinha catequese, era notória a necessidade de restauração da casa, sendo que, pelo menos do que tenho conhecimento, não foi feito nada desde então. Pelo que me foi transmitido, sob pena de estar a difundir uma informação errada, parece que a Câmara ou a Junta de freguesia, pretendiam comprá-la. Espero sinceramente que seja restaurada e que, quem sabe, sirva um dia de espaço para tertúlias culturais, que diga-se de passagem, muito escasseiam agora por estas bandas.
  • Falando, em traços muito gerais, de Teixeira de Pascoaes: Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos, é o seu nome completo, nasceu na data acima referida, e morreu a 14 de Dezembro de 1952. Foi o filho mais velho do Conselheiro e Deputado da Nação, João Pereira Teixeira de Vasconcelos, estudou no liceu de Amarante (onde um dia um professor de português depois de lhe ter corrigido um ponto da disciplina lhe disse que ele nunca haveria de saber escrever duas palavras em bom português! LOL), e depois prosseguiu estudos na Universidade de Coimbra, nos cursos de Letras e de Direito, tendo aberto um escritório de advocacia na Rua da Vitória, no Porto. Contudo, ao fim de pouco tempo (cerca de 10 anos), fechou o escritório (pelo que parece por ter conseguido a absolvição duma rapariga acusada de infanticídio) e fixou-se na casa paterna, em Pascoaes.
  • Foi um dos mais notáveis representantes do Saudosismo e com António Sérgio e Raúl Proença foi um dos líderes do chamado movimento da “Renascença Portuguesa” e lançou em 1910 no Porto, juntamente com Leonardo Coimbra e Jaime Cortesão, a revista “A Águia”, principal órgão do movimento.
  • Para finalizar, deixo uma estrofe dum poema de Teixeira de Pascoaes, sobre a sua aldeia, mais concretamente, no mês em que estamos:
"E, em Novembro, os fiéis pedindo à nossa porta.
O velho, o órfão, a viúva...
Magros perfis de dor, à fome e à chuva,
Sobre a terra morta.
Lá vão, em ermos grupos pobrezinhos.
E rezam orações mais tristes que as do vento...
Alguns são aleijadinhos e ceguinhos
De nascimento...
Além, no presbitério,
Descobre-se pequeno cemitério,
Negro de gente humilde que murmura...
Piedosas flores,
De maceradas cores,
Alegram vagamente aquela nódoa escura,
E pousam sobre as covas...
Umas, velhinhas, com a cruz tombada,
Cheias de cinza anónima, esquecida...
Estas, de terra fresca, a branquejar, são novas;
Têm a efígie do morto intacta e perfumada;
Ao pé das outras - vede! - ah, quase que têm vida!"

domingo, 4 de novembro de 2007

Um livro à minha medida!

"Torne-se pequeno e pense em grande", de Seth Godin, Editorial Presença
(É claro que eu não me preciso de tornar, o que me facilita .... pensar em grande! É só vantagens ;)

O Sr. Tutankamon e a Sr. Maria Pia

- A múmia de Tutankamon vai ser retirada hoje do seu túmulo em Luxor e o seu rosto vai ser revelado pela primeira vez na história, sendo exiobida ao público amanhã! Na verdade, desde que vi um documentário na RTP2 sobre Tutankamon, nutri sempre grande curiosidade sobre tudo o que o rodeia.

- A ponte Maria Pia faz hoje 130 anos. Daqui envio os meus parabèns à Sr.ª, com os desejos que seja rapidamente reabilitada ;)

Músicas

Tendo ainda na memória o filme que vi na Sexta-feira, "O capacete dourado", e prestando um tributo à persistente castora cá de casa, e embalada pelo colorido deste Outono belíssimo em Amarante, deixo a sugestão na blogosfera: Que tal dançarmos uma valsa, no Danúbio Azul?

(Re)Descobrir Amarante (IV)



Devo dizer que hoje está um dia soberbo em Amarante! O colorido das árvores, as sombras das mesmas nas águas calmas do Tâmega, o sol (pouco) outunal quente, enchem-nos a alma! Fabuloso! Que vontade dá de viver!

Falando da fotografia: Para quem entra pelo porta do fundo ou principal da Igreja de S. Gonçalo, deve olhar para a sua esquerda, para quem entra pela porta lateral deve olhar para a sua direita e encontrará o órgão (agora inactivo) desta Igreja, cuja construção terminou antes de 1600.

É um amplo e monumental órgão apoiado em três gigantes, sendo que, o do meio, um tritão, segundo Luís Van Zeller Macedo, "abria a boca quando o órgão tocava os sons baixos." Segundo o autor da "Pequena História de Amarante", " recordo-me bem de o ouvir, era maravilhoso, chegando por vezes ao Ribeirinho, ou ao lugar do Calvário. Pena é que não seja restaurado".

Pela minha parte nunca tive o prazer de o ouvir, e segundo o que perguntei à minha mãe, ela também não. Lembro-me de olhar extasiada para aquela figura, como uma criança curiosa, e na verdade, cresci a tentar descobrir o que era "aquilo". E ainda agora, sempre que vou à Igreja de S. Gonçalo demoro os olhos naquele órgão e tento imaginar a boca do Tritão a abrir e o som do órgão a pincelar os ares amarantinos! E hoje estava tão belo, com os raios do sol a dourar o interior da Igreja!

Foi, de facto, este fascínio que me fez começar a (re)descobrir a Igreja de S. Gonçalo pelo interior e não pelo exterior, como seria o mais lógico.


Bom Domingo para todos ;)

sábado, 3 de novembro de 2007

Capacete Dourado


A noite começou com uma corrida, perseguindo uma "gaiata" já crescida, que segurava o trolley como um brinquedo de infância... Galgávamos os passeios, ora perfeitos, ora alagados pela vontade frenética de "remodelar"... Corríamos contra o tempo, quando ainda havia tempo!


Oh, como apetece o sofá e o aconchego quando chegamos ao lugar da partida, mas a dúvida cresce: ir ou não ir? Sim, vamos! (a "gaiata" tem razão!)


Filme português, huuummmm... Mas é pequeno, dá para voltar cedo! O filme já roda, mas começou mesmo há pouquinho! Que dizer, agora que as portas da sala se fecharam e estou em frente a este ecrã?


Destaco a estética e a originalidade da banda sonora em conexão com as imagens; destaco a cumplicidade íntima e não expansiva (como agora se vende como bom peixe) da relação entre dois jovens; destaco o humor do melhor amigo ("ela é daquelas que não sai de casa sem fazer uma dieta"); destaco os planos cinematográficos; destaco o correr límpido das águas...


Mas não perdoo a forma "venezuelana" de mau gosto, demasiado consequente e programada, da forma como eles se conheceram; não perdoo a pouca exploração do crescimento da relação entre eles; não perdoo a parca caracterização dela quanto ao facto de ela ser anoréctica, com um distúrbio alimentar ao ponto de ter estado internada...


E não perdoo porque este podia ter sido um filme tão melhor, um autêntico bombom na cinematografia portuguesa actual.


(Fora que há uma certa irrealidade na "bondade" daquele gang... Mas, na verdade, o intuito do filme, penso, não era tanto a análise sociológica do ambiente na escola, mas sim como o "amor" pode regenerar!)



E regenerou, fê-los mudar de vida...


E desta semana vou recordar a síncrese de 2 casais: um que se beija com um deboche pueril, amoral e descabido de sentimento, e outro que não se beija, mas que se tocam profundamente nos corações um do outro!