segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Desejos de um Santo Natal



Um Santo Natal para todos!

Que o impossível que se tornou possível com o nascimento deste menino, nos guie e ilumine a todos!

Um bem haja muito especial aos meus blogs amigos e a quem perde uns minutinhos a visitar este blog ;)

domingo, 23 de dezembro de 2007

Rascunhos

Porque não me vês inteira, porque o meu fado é acolher-te no meu seio, como uma mãe envolve docemente seu filho.

Tarde escura, de um frio que arrepia a espinha coberta com panos grossos. Frio que penetra os lugares mais protegidos e que se esquiva aos obstáculos. E essa tarde torna-se tudo lá fora, no meu dentro. A música amortece o momento, embala-me para seguir o caminho negro do que se segue e os meus olhos crescem desmesuradamente, são despertados para sair da realidade, para pairar sobre aquele local, para ser o narrador presente, para pressentir tudo… tudo… todo o pulsar das batidas dum órgão maldito que racionaliza e vê… que o narrador é apartado da cena principal e os focos iluminam quem naturalmente desempenha o seu papel. Naturalmente sem o saber, um deles a pensar que desempenha o papel contrário, o de grilo, e não o de pinóquio. O nariz cresce, a humanidade aumenta.

E um triângulo, dentro de um quadrado de fogo, se constrói, vaticinando os 4 vértices perdidos por uma geometria efabulada.

Detalhes, míseros detalhes, benditos sejam pelo perpetuar dos mal-entendidos, que alimentam as insanas necessidades dos seres humanos.

Escarlate

Oh triste visão de um inferno futuro; antevejo choro e ranger de dentes pincelados pelo escarnecer de um aviso que estilhaçou um coração pulsante, mas já ferido. Sangue irá jorrar de uns olhos lacrimejantes, pelo desejo da posse, sofreguidão inegável e irresistível de um terceiro. Comunhão plena de olhares e toques é o meu ensejo mais intímo e só revelado e rebelado às paredes da minha mente. Mente, a quem minto, Mente habituada a confissões tontase lançadas ao desbarato, por um ser sedento de atenção, frio, e sedento de calor, qual pedinte que mendiga afectos e que estende as suas enrugadas mãos nas ruas pútridas de um ódio por não ter. Maldito querer que me enlouqueces, que me provocas devaneios e febres de desejos insondáveis, que me povoas os sonhos com a cor escarlate por pensar que te quero... AGORA!

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Uma imagem vale por mil palavras...



Esta imagem, perto do Bairro Ignez, no Porto, descreve o que sinto neste 5.ºano, em muitos níveis...






Pó encharcado


Neste tempo do pasmar...

Estou estéril do pensar...

Nada concebo de útil,

Nada profiro de belo...

Só acre, só pó, só fútil...


Vivo num deserto do nada,

Satisfaço-me com o bafio,

De um roupeiro tão fechado

De tantas vezes rebuscado...


Como gostaria de abrir a janela,

A brisa entraria,

E eu,

Por fim,

Respiraria...


Mas vivo numa casa sem janelas,

Sem portas, nem portadas,

Enclausurada sobrevivo,

Sonhando, cogitando num Eu,

Fora de casa...

sábado, 24 de novembro de 2007

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Palavras e Sangue, de Papini

"Eu era para ela o Universo, ao passo que ela, para mim, não passava de uma curiosidade.
O seu amor, porém, chegou a ser tão grande que o meu não pôde durar. Tenho tanto desprezo por mim próprio que não posso adaptar-me ao papel de ídolo. Irritava-me aquela apaixonada veneração que a todo o momento sentia em torno de mim. Saber que cada um dos meus actos era espiado, recordado, engrandecido, com todos os seus pormenores: que cada palavra minha era escutada, anotada, repetida, comentada e que toda a minha vida era, para outro ser, um espectáculo, ainda que fosse de glória, humilhava-me. Quero existir para mim, viver para mim; não quero que ninguém entre na minha vida, ainda que seja vestido de escravo."

(Re)Descobrir Amarante (VII)



Cumpre agora fornecer uma visão geral sobre a Igreja de S. Gonçalo.

A construção do Convento Dominicano e da Igreja anexa, em honra de S. Gonçalo, teve início em 1540, após autorização e ajuda de D. João III e de sua mulher, a Rainha D. Catarina.

O pórtico que valoriza a entrada lateral (que está na foto), bem como a fachada à esquerda, encimada pela Varanda dos Reis, é de um estilo e de uma época posterior à construção da Igreja. O traçado primitivo, da época filipina, é da autoria de Frei Julião Romero, mestre arquitecto dos dominicanos. Aliás, a varanda dos reis e a portada lateral, muito trabalhada, são dois melhoramentos posteriores para a valorização da fachada, que primitivamente era simples.

A edificação da Igreja e do Convento terminou na época de Filipe I, portanto antes de 1600. O contrato para a construção do pórtico e da Varanda dos Reis foi celebrado pelos frades dominicanos com o mestre construtor em 12 de Outubro de 1683, data em que se iniciou esta obra de valorização, portanto cerca de 100 anos depois do início da construção primitiva.

Nos próximos posts desta rubrica falarei de mais pormenores desta fachada.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Olhar (sobre) o Porto ( actualização do dia 21)

Hoje de manhã, depois da tempestade vem a bonança....
















segunda-feira, 12 de novembro de 2007

(Re)Descobrir Amarante (VI)



Esta foto foi tirada na Estação da Livração (depois duma fantástica viagem, que espero continuação em breve em direcção a Barca D'Alva ;-), na parte em que se encontram estacionadas as automotoras que fazem a ligação com Amarante. Aqui começa a Linha do Tâmega. Assim, para se chegar a Amarante por linhas de comboio, tem de se sair na Livração e aí apanhar uma automotora. Eu ainda me lembro das antigas automotoras, mais robustas, barulhentas, trepidantes e menos asseadas, que faziam a ligação entre Amarante e a Livração. Agora estas são muito mais silenciosas, e tornam a viagem muito mais agradável!

Actualmente, a linha do Tâmega só liga Livração a Amarante, mas antes continuava até ao Arco de Baúlhe. Aí vivia a minha avó materna e, por isso, uma vez fui com o meu pai de automotora até lá, e recordo o fascínio que tal viagem me provocou, tal que ainda hoje me lembro do bulício das pessoas a entrar, do dia solarengo que estava, das flores das margens. E entristece-me sinceramente que aquelas linhas estejam ao abandono e que o encerramento desse troço tenha atirado para um maior isolamento esses lugares que viviam da linha do comboio para estar no mapa. Se é verdade que agora há a ligação por via rápida entre Amarante e Celorico de Basto que demora 15 minutos de carro, também é verdade que os velhos das aldeias não conduzem; e até mesmo a penosa(!) viagem de carreira de Amarante a Cabeceiras de Basto tem horários mais escassos e não serve as populações devidamente. E assim andamos, governo após governo, promessa atrás de promessa, a enterrar povoações, a empoeirar memórias, sorrisos, a desertificar o interior!

Nota Histórica:

  • Com início na Livração, a Linha do Tâmega, complementar à do Douro, só começou a ser construída em Março de 1905 pelos Caminhos de Ferro do Estado – Minho e Douro.
  • O primeiro troço, entre Livração e Amarante, foi inaugurado em 20 de Março de 1909; o segundo, entre Amarante e Gatão, a 23 de Outubro de 1921; o terceiro, entre Gatão e Chapa, abriu à exploração a 22 de Junho de 1926.
  • Em 1927, a CP toma por arrendamento as linhas dos Caminhos de Ferro do Estado e subaluga a do Tâmega à Caminhos de Ferro do Norte de Portugal, que faz chegar o comboio a Celorico de Basto, em 20 de Março de 1932.
  • Em 1947, esta linha passa para a CP e o comboio atinge Arco de Baúlhe a 15 de Janeiro de 1949.
  • Em 1 de Janeiro de 1990, o troço Amarante-Arco de Baúlhe foi encerrado.

Para mais informações sobre esta linha, ver, por exemplo, aqui e aqui.

Citação (IV)

Desta feita não será uma citação, mas duas!
Considero-as as frases da semana, e foram proferidas por Pedro Nuno Santos (Secretário-Geral da JS), no debate que ocorreu na passada semana na FDUP, cujo tema era o papel das juventudes partidárias na sociedade actual.
As duas frases fizeram parte da resposta do dirigente socialista ao facto do Bloco de Esquerda não ter uma juventude partidária, na medida em que eles (bloquistas) defendem que toda a gente deve poder fazer política.



"Não há virgens no B.E."



"B.E. sofre do síndrome da diferença."

domingo, 11 de novembro de 2007

(Re)Descobrir Amarante (V)



  • Na 1.ª foto temos uma perspectiva da Rua de S. Pedro, uma rua íngreme, como se pode ver, e que, descendo-a e virando à esquerda, nos leva à Biblioteca Municipal de Amarante. Ainda na 1.ª foto, repare-se na casa do lado esquerdo. Nela nasceu Teixeira de Pascoaes, em 2 de Novembro de 1877. Na parte frontal da casa encontramos uma placa evocativa deste acontecimento (2.ª foto), e que nos faz olhar para aquela casa de outra forma.
  • Na verdade, muitas crianças da paróquia de S. Gonçalo lembrar-se-ão daquela casa, não tanto por ali ter nascido o mais conhecido poeta amarantino, mas por lá terem tido catequese e brincado enquanto esperavam pelos seus pais. Aliás, faço parte dessa geração! Lembro-me dos dias de chuva em que ficava retida no rés-do-chão até que me viessem buscar de carro; lembro-me dos dias de sol em que um calor agradável ajudava ao encontro catequético; lembro-me dos interessantíssimos debates estimulados pela minha catequista D. Cândida, numa sala do fundo no 1.º andar, os quais ainda agora relembro e cuja liberdade de pensamento ainda tento manter; lembro-me da alcatifa que acompanhava as escadas e de as percorrer num ápice quando já ia atrasada; lembro-me de conhecer amigos que ainda mantenho.
  • E é precisamente por esta casa povoar a minha memória e por achar que muitos amarantinos não sabem o significado da mesma, que decidi postar fotos dela.
  • Esta casa, antes de servir de sítio para a catequese, era residência paroquial do Sr. Padre Morais, que entretanto foi substituído nestas lides. Já quando lá tinha catequese, era notória a necessidade de restauração da casa, sendo que, pelo menos do que tenho conhecimento, não foi feito nada desde então. Pelo que me foi transmitido, sob pena de estar a difundir uma informação errada, parece que a Câmara ou a Junta de freguesia, pretendiam comprá-la. Espero sinceramente que seja restaurada e que, quem sabe, sirva um dia de espaço para tertúlias culturais, que diga-se de passagem, muito escasseiam agora por estas bandas.
  • Falando, em traços muito gerais, de Teixeira de Pascoaes: Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos, é o seu nome completo, nasceu na data acima referida, e morreu a 14 de Dezembro de 1952. Foi o filho mais velho do Conselheiro e Deputado da Nação, João Pereira Teixeira de Vasconcelos, estudou no liceu de Amarante (onde um dia um professor de português depois de lhe ter corrigido um ponto da disciplina lhe disse que ele nunca haveria de saber escrever duas palavras em bom português! LOL), e depois prosseguiu estudos na Universidade de Coimbra, nos cursos de Letras e de Direito, tendo aberto um escritório de advocacia na Rua da Vitória, no Porto. Contudo, ao fim de pouco tempo (cerca de 10 anos), fechou o escritório (pelo que parece por ter conseguido a absolvição duma rapariga acusada de infanticídio) e fixou-se na casa paterna, em Pascoaes.
  • Foi um dos mais notáveis representantes do Saudosismo e com António Sérgio e Raúl Proença foi um dos líderes do chamado movimento da “Renascença Portuguesa” e lançou em 1910 no Porto, juntamente com Leonardo Coimbra e Jaime Cortesão, a revista “A Águia”, principal órgão do movimento.
  • Para finalizar, deixo uma estrofe dum poema de Teixeira de Pascoaes, sobre a sua aldeia, mais concretamente, no mês em que estamos:
"E, em Novembro, os fiéis pedindo à nossa porta.
O velho, o órfão, a viúva...
Magros perfis de dor, à fome e à chuva,
Sobre a terra morta.
Lá vão, em ermos grupos pobrezinhos.
E rezam orações mais tristes que as do vento...
Alguns são aleijadinhos e ceguinhos
De nascimento...
Além, no presbitério,
Descobre-se pequeno cemitério,
Negro de gente humilde que murmura...
Piedosas flores,
De maceradas cores,
Alegram vagamente aquela nódoa escura,
E pousam sobre as covas...
Umas, velhinhas, com a cruz tombada,
Cheias de cinza anónima, esquecida...
Estas, de terra fresca, a branquejar, são novas;
Têm a efígie do morto intacta e perfumada;
Ao pé das outras - vede! - ah, quase que têm vida!"

domingo, 4 de novembro de 2007

Um livro à minha medida!

"Torne-se pequeno e pense em grande", de Seth Godin, Editorial Presença
(É claro que eu não me preciso de tornar, o que me facilita .... pensar em grande! É só vantagens ;)

O Sr. Tutankamon e a Sr. Maria Pia

- A múmia de Tutankamon vai ser retirada hoje do seu túmulo em Luxor e o seu rosto vai ser revelado pela primeira vez na história, sendo exiobida ao público amanhã! Na verdade, desde que vi um documentário na RTP2 sobre Tutankamon, nutri sempre grande curiosidade sobre tudo o que o rodeia.

- A ponte Maria Pia faz hoje 130 anos. Daqui envio os meus parabèns à Sr.ª, com os desejos que seja rapidamente reabilitada ;)

Músicas

Tendo ainda na memória o filme que vi na Sexta-feira, "O capacete dourado", e prestando um tributo à persistente castora cá de casa, e embalada pelo colorido deste Outono belíssimo em Amarante, deixo a sugestão na blogosfera: Que tal dançarmos uma valsa, no Danúbio Azul?

(Re)Descobrir Amarante (IV)



Devo dizer que hoje está um dia soberbo em Amarante! O colorido das árvores, as sombras das mesmas nas águas calmas do Tâmega, o sol (pouco) outunal quente, enchem-nos a alma! Fabuloso! Que vontade dá de viver!

Falando da fotografia: Para quem entra pelo porta do fundo ou principal da Igreja de S. Gonçalo, deve olhar para a sua esquerda, para quem entra pela porta lateral deve olhar para a sua direita e encontrará o órgão (agora inactivo) desta Igreja, cuja construção terminou antes de 1600.

É um amplo e monumental órgão apoiado em três gigantes, sendo que, o do meio, um tritão, segundo Luís Van Zeller Macedo, "abria a boca quando o órgão tocava os sons baixos." Segundo o autor da "Pequena História de Amarante", " recordo-me bem de o ouvir, era maravilhoso, chegando por vezes ao Ribeirinho, ou ao lugar do Calvário. Pena é que não seja restaurado".

Pela minha parte nunca tive o prazer de o ouvir, e segundo o que perguntei à minha mãe, ela também não. Lembro-me de olhar extasiada para aquela figura, como uma criança curiosa, e na verdade, cresci a tentar descobrir o que era "aquilo". E ainda agora, sempre que vou à Igreja de S. Gonçalo demoro os olhos naquele órgão e tento imaginar a boca do Tritão a abrir e o som do órgão a pincelar os ares amarantinos! E hoje estava tão belo, com os raios do sol a dourar o interior da Igreja!

Foi, de facto, este fascínio que me fez começar a (re)descobrir a Igreja de S. Gonçalo pelo interior e não pelo exterior, como seria o mais lógico.


Bom Domingo para todos ;)

sábado, 3 de novembro de 2007

Capacete Dourado


A noite começou com uma corrida, perseguindo uma "gaiata" já crescida, que segurava o trolley como um brinquedo de infância... Galgávamos os passeios, ora perfeitos, ora alagados pela vontade frenética de "remodelar"... Corríamos contra o tempo, quando ainda havia tempo!


Oh, como apetece o sofá e o aconchego quando chegamos ao lugar da partida, mas a dúvida cresce: ir ou não ir? Sim, vamos! (a "gaiata" tem razão!)


Filme português, huuummmm... Mas é pequeno, dá para voltar cedo! O filme já roda, mas começou mesmo há pouquinho! Que dizer, agora que as portas da sala se fecharam e estou em frente a este ecrã?


Destaco a estética e a originalidade da banda sonora em conexão com as imagens; destaco a cumplicidade íntima e não expansiva (como agora se vende como bom peixe) da relação entre dois jovens; destaco o humor do melhor amigo ("ela é daquelas que não sai de casa sem fazer uma dieta"); destaco os planos cinematográficos; destaco o correr límpido das águas...


Mas não perdoo a forma "venezuelana" de mau gosto, demasiado consequente e programada, da forma como eles se conheceram; não perdoo a pouca exploração do crescimento da relação entre eles; não perdoo a parca caracterização dela quanto ao facto de ela ser anoréctica, com um distúrbio alimentar ao ponto de ter estado internada...


E não perdoo porque este podia ter sido um filme tão melhor, um autêntico bombom na cinematografia portuguesa actual.


(Fora que há uma certa irrealidade na "bondade" daquele gang... Mas, na verdade, o intuito do filme, penso, não era tanto a análise sociológica do ambiente na escola, mas sim como o "amor" pode regenerar!)



E regenerou, fê-los mudar de vida...


E desta semana vou recordar a síncrese de 2 casais: um que se beija com um deboche pueril, amoral e descabido de sentimento, e outro que não se beija, mas que se tocam profundamente nos corações um do outro!


sexta-feira, 26 de outubro de 2007

AH??

"Segundo as novas regras, deixa de existir diferenciação entre faltas justificadas e injustificadas e os alunos deixam de reprovar de ano ou ser excluídos da escola quando excedem o limite de faltas." (Diário Económico, de 25 de Outubro de 2007.)
Só pode ter sido erro do jornalista... só pode... quem dera que seja...

??

"Aonde é que isto iria parar se todos passássemos a viver eternamente?"
As intermitências da Morte, de José Saramago, pág. 68

Citação (III)

"Tem tempo, toma o teu tempo, não tenhas pressa."

Wittgenstein

domingo, 14 de outubro de 2007

Ainda a propósito de Lipovetsky...

"Todas as grandes instituições sociais são colonizadas pelo consumismo. O casamento deixa ser para a vida e passa a ser um contrato rescindível: se não estou bem, mudo."
Só esta frase dava para muito debate! Deixo alguns tópicos:
- O que significa para cada um de nós o casamento?
- Por que razão casar?
- Casamento ou União de Facto?
- Casamento com prazo de validade? Medo de compromissos sem prazo de validade?
- O que é estar bem?
- A facilidade não é inimiga da felicidade?
- Individualismo vs Casamento.
- ...
"Antigamente, havia a religião e a comunidade, que lhe davam força. Hoje, há uma individualização que fragiliza as pessoas..."
No fundo, somos seres desagregados na agregação... Somos individualistas, conhecemos o nosso espaço, temos os nossos objectivos, a nossa razão...
Actualmente será o ser humano consumerista, um ser "casável" ou "unível"?
(desculpem esta formatação, mas os comandos não me obedecem :( Prometo alterar quando puder!)

Conceitos e Significados

Rotina do Domingo: depois de alimentar o espírito, e ainda antes de alimentar o físico, folheio o JN e a sua revista "Notícias Magazine". Hoje li com especial avidez a entrevista a Gilles Lipovetsky, um filósofo francês que lançou um novo livro, entitulado "A Felicidade Paradoxal". Com esta entrevista aprendi um novo conceito:


Homo Consumericus: o indivíduo deixa de consumir para mostrar aos outros e passa a consumir para se relacionar consigo próprio, através daquilo que compram as pessoas desejam exprimir a sua personalidade, a sua cultura, os seus gostos.

sábado, 13 de outubro de 2007

Citação (II)

"Porque a filosofia precisa tanto da morte como as religiões, se filosofamos é por saber que morreremos, monsieur de montaigne já tinha dito que filosofar é aprender a morrer."


em "As Intermitências da Morte", de José Saramago

domingo, 7 de outubro de 2007

"Complicómetro"

Tirei um tempinho, e depois de ver as escolhas dominicais do Professor, decidi dar um salto à blogosfera, nomeadamente, à blogosfera do jornal Sol, da qual fazem parte, por exemplo, Marcelo Rebelo de Sousa, Paulo e Miguel Portas, António Pedro Vasconcelos, Margarida Rebelo Pinto... Nunca tinha dado um salto ao espaço desta última, e "com muito prazer" (título do blog), comecei a ler o último post.


Dele destaco 2 conclusões:

- A culpa e o medo são mecanismos que fazem disparar o "complicómetro", tão típico dos portugueses, segundo a escritora;


- "É verdade que o complicómetro afecta muitas mulheres, mas no caso dos homens é ainda mais complicado, porque, como diz Eduardo Mendonza, os homens raramente se explicam, e quando o fazem, fazem mal."


Huuummm, acho que discordo da segunda conclusão... a comparar quantitativamente diria que é mais complicado nas mulheres... É que eles raramente têm de se explicar, porque das duas uma, ou nós explicamos por eles, ou antes de eles darem explicação, nós já a sabemos porque já a vemos nas expressões deles... Ou então não...


E vamos a ver, será assim tão mau o complicómetro? O "para a frentex" não terá o defeito de tudo que pareça com o simplex? E depois, o que era feito dos romances, das telenovelas brasileiras, portuguesas e das míticas mexicanas?? E que seria feito desse sucesso que é "O Diário de Sofia?" E dos psicólogos, psiquiatras, conselheiros, videntes, etc, etc...?

Por isso, se calhar, para muitos o complicómetro é um bom ganha-pão!

sábado, 6 de outubro de 2007

Desafio

15 dias sem estar na internet mais do que uns reduzidos minutos impossibilitaram-me de responder mais cedo ao desafio colocado pela RTP, do blog Tretas&Letras :

"1. Peguem no livro mais próximo;
2. Abram-no na página 161;
3. Procurem a 5ª frase completa;
4. Coloquem a frase no blog;
5. Não vale escolher a melhor frase nem o melhor livro (usem o mais próximo), de preferência não jurídico, ok?;
6. Passar o desafio a cinco pessoas."

Como, de preferência, tem de ser livro não jurídico, o livro mais próximo é "As intermitências da morte", de José Saramago. Acontece que a pág. 61 só tem 3 frases (o que para quem já leu Saramago não constitui uma surpresa!).

O 2.º mais próximo é o "Livro do Desassossego", por Bernardo Soares, 1.ª parte ("cordialmente" ;-) emprestado pelo Duarte). Fica então a frase:

"Um fim vago devia existir, pois caminhávamos."

Coloco o desafio ao Duarte, João Fachana, Sargento de Ferro, Gustavo Santos e S.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Ainda o (Re)Descobrir Amarante II

Como tinha prometido num post anterior, (Re)Descobrir Amarante (II), aqui fica a foto do baixo relevo decorativo existente na Igreja de S. Gonçalo, no alto da Nave Central, sobre a 1.ª Ponte (a original Ponte de S. Gonçalo), que começou a ser construída em 1250.


Recorde-se o que se disse sobre este baixo relevo: "todavia a ponte seria, com certeza, diferente, na medida em que o santo não tinha necessidade de construir uma ponte com ameias e uma torre para defesa e portagem."










E, por fim, uma fotografia da Senhora da Ponte, cruzeiro que foi retirado da 1.ª ponte antes dela se desmoronar, tendo sido colocado, posteriormente, na janela dum recanto da Igreja (para quem vem da ponte, está logo em frente!)

Uma referência final à página pessoal sobre Amarante de Carlos Portela, que simpaticamente passou pelo meu blog ;)

Os imprescindíveis telemóveis

Retirei o excerto seguinte da Revista dos Aderentes Fnac Setembro/Outubro 2007:

"Pouco resta para dizer acerca deste acessório que já deixou de o ser, porque praticamente se tornou num bem de primeira necessidade. Quantas vezes imaginamos como podíamos viver há anos sem o telemóvel?"


Eu já imaginei... E também me lembrei de como (sobre)vivia sem ele... E o leitor?

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Citação (I)

"A decadência é a perda total da inconsciência..."

Bernardo Soares, n'o Livro do Desassossego

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Climas

O Cineclube de Amarante voltou à acção! E ainda bem! Que saudades tinha de ir a correr meter-me no carro com a minha irmã e tentar chegar em 2 minutos ao cinema, estacionar e correr para a quase vazia bilheteira (há quem não saiba aproveitar as oportunidades!), e depois entrar para a "antecâmara" da sala de cinema, onde nos são disponibilizadas informações várias sobre a película! Gostoso mesmo!


Hoje o filme tinha como título Climas. Ia com algumas expectativas, aguçadas pelo blog Tretas & Letras, e devo dizer que o filme é mais profundo do que parece, muito mais! Aparentemente, podemos resumir em poucas linhas a história do filme. É uma história sobre a relação amorosa de um homem, mais velho (Isa), com uma mulher (Bahar), mais nova.

O filme vale muito mais pelas imagens, pelas expressões, pelos olhares, pelo que não é dito, do que pelas palavras que são proferidas. Umas das cenas iniciais é sintomática disso: através de um grande plano de Bahar vemos a mudança da sua expressão, até ao escorrer duma lágrima. Uma imagem longa, profunda, enigmática logo ao início, e exigente. Neste filme a câmara não tem medo de focar os actores descaradamente, de os tentar despir, de lhes tentar entrar na alma, de nos fazer penetrar na personagem, de nos interrogarmos sobre a relação deles, sobre as nossas relações.


Um reencontro ocasional de Isa com Guven (um conhecido), o olhar comprometedor de Serap (companheira de Guven), dirigido para os seus sapatos bicudos, um cumprimentar aparentemente desinteressado, uma desculpa (de Isa) para negar um copo (com Guven) porque vai ter com uma pessoa... indícios que me fizeram logo deduzir que Isa ia ter com Serap. Ele entra em casa dela, pede uma bebida, ela sabe o que ele pensa, ele sabe o que ela pensa, o que ela quer, ou pelo menos pensa que sabe, ele deixa cair a sua cabeça no colo dela, depois sobe e beija-a, ela nega, ele agarra-a, e ela tenta soltar-se, ele tenta dominá-la, ela esbraceja, ele não desiste, arranca-lhe a camisola, ela puxa-lhe os cabelos, como a tentar soltar-se, mas parece também como que a puxá-lo para ela, quer e não quer, eles varrem a sala, ela continua a tentar soltar-se até que sente a inevitabilidade da situação, cede-lhe, cede ao que quer e reprime. Ele desde logo lhe disse, tu abriste-me a porta, se quiseres, vou embora. E ela não quis! Ele era a tentação, ele despertava-lhe ferocidade, ela era a tempestade para ele, a ferocidade de um furacão! Esta cena (longa) destoa da lentidão do resto do filme! A sua brutalidade parecerá excessiva ao espectador... Talvez sim, mas ela explica o por quê da relação entre Isa e Bahar não dar resultado, nesta cena vemos quem é Isa, vemos que Bahar (afinal) não era a implicativa, a mulher mimada, vemos a diferença de 2 mundos!


Bahar era a ingenuidade, a juventude, a calma, os sonhos, o futuro calmo em aberto numa praia paradisíaca! Serap era a tempestade, de um vento incontrolável, de uma adrenalina que sobe o corpo e domina a alma, um desafio, um conhecer de limites. Ela significava o viver no limite! Mas para Serap, no fundo, Isa podia ser um sólida relação futura, mas ela não o admitiria a Isa. Serap ri-se muito no filme, ri-se daquele homem que a domina, ri-se, acho eu, porque o conhece e escarnece da sua fragilidade, pela falta que lhe faz Bahar. E o homem que a dominou, corre para casa dela quando ela lhe liga para o telemóvel e se ri, como um demónio que o atrai, que o afasta de Bahar. E a cena seguinte é de uma subtileza, duma crueza, duma realidade que me espantou: o olhar dela para ele, ela colocada na ponta do sofá, ele na outra ponta, ela meneia-se, dá-lhe primeiro sinais subtis, depois coloca-lhe a perna decidida sobre as pernas dele... Ela agora domina, ela agora sabe das fragilidades dele, ela agora sabe que Isa e Bahar acabaram!


Onde passar férias? Uma foto dum sítio paradisíaco assemelha-se às férias de verão que passou com Bahar. Não tem sentido ir para um sítio assim sem ela, aquela imagem põe a nu aquilo que ele ainda poderia duvidar. Soube informações dela pela Serap, dirige-se para Leste, onde grandes nevões cobrem a paisagem, não desiste, encontra-a, tomam chá, ele dá-lhe fotos do Verão passado e um presente, ela tem de se ir embora, diz não ter tempo para estar com ele, finge esquecer-se das fotos e da prenda. Ele, contudo, volta a tentar, e vê-a a chorar na carrinha da equipa da gravação. Chora por eles, chora por este voltar a vê-lo, que lhe abriu uma ferida ainda não sarada, chora porque quer voltar para ele, mas não pode, não deve. Ele diz, primeiro, que mudou, depois já diz, eu sinto que posso mudar, quero casar, ter filhos, quero ter uma vida contigo... Ela faz-lhe uma única pergunta, pede sinceridade, "neste tempo estiveste alguma vez com Serap?" E ele responde não! Mente! Ela diz-lhe para ele se ir embora... ele vai... compra o bilhete para voltar a Istambul... Quando, à noite, dorme no seu quarto, alguém bate à porta, é Bahar. Entra, o diálogo entre eles é o do olhar, o do tacto, o odor, os gestos conhecidos e (re)conhecidos. Como uma menina confusa, ela deita-se na cama na posição de feto, quer pensar que todo o desentendimento foi um pesadelo... Adormece e sonha com um sol radiante, com prados verdes, e ao contar o seu sonho a Isa sorri, um sorriso ingénuo, de uma criança que vê alguma esperança, um sorriso cristalino, que contrasta com a expressão fechada dele. Ela está a dar-lhe um sinal, um sinal que, apesar de ter dúvidas quanto à resposta que ele dá à sua pergunta sobre Serap (ou então sabe que ele esteve com ela, mas prefere acreditar que não), está disposta a tentar de novo! Ele percebe o intuito dela (devo dizer que esta é uma forma muito feminina de dizer as coisas!) Ele fala-lhe do horário que ela tem de cumprir e que ele tem de apanhar o avião. E, o seu olhar esmorece, os seus olhos caiem aos poucos, volta a nevar no seu sonho de sol radioso.

Ela vai para as gravações, e um avião ( avião de Isa) corta os céus ruidosamente. Ela acompanha o seu percurso, mas depois baixa os olhos em direcção ao horizonte, mas não olha para o sítio das gravações, parece-me. A sua expressão vai-se contraindo, e uma lágrima, como no início do filme, escorre-lhe pela face.

Fica a dúvida: terá ido Isa para Istambul e a relação deles acabado, ou estará Isa no horizonte de Bahar? Talvez a solução esteja em aberto: que final daríamos a uma relação como aquela? E se Isa fica, a repetição da cena da lágrima não sugerirá o recomeço duma relação com um fim sem fim?

Um filme que nos faz pensar sobre as nossas relações (amorosas), em como apostamos em algo que pode não valer a pena, e nós sabemos isso, mas insistimos, um filme em que 2 tipos de relacionamentos conflituam, um filme que sublinha a importância do olhar!

Um filme cujo personagem principal não gostamos, e que queremos que ele tenha partido no avião!


E mal posso esperar pelos filmes seguintes:

Zodíaco

À Prova de Morte

Lady Chatterley

:D

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Segredo (?)

Hoje cedi à tentação de folhear o livro que está em 1.º lugar no top de vendas do Modelo da minha terrinha: O Segredo.

Abri e calhei logo num tema muito caro às mulheres: o corpo. O título do capítulo era: " O segredo e o corpo".

O capítulo começa bem ( nesse momento pensei que a mim ninguém me paga por dizer tais coisas... enfim.... há gente com sorte...), mas..... depois... reparem neste excerto:


"Livre-se de todos esses pensamentos limitadores. Os alimentos não o fazem ganhar peso, a não ser que acredite nisso!"


Não consegui escrever num papel mais nenhum excerto, mas muitos deles prestam-se a frondosos comentários! Quanto a este, vou fazer a experiência com uns chocolates cá de casa e daqui a um mês digo resultados...

Ou então, nem me consigo sentar na cadeira...

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

"O Pecado não mora ao lado"

"O Pecado não mora ao lado. O Estado Novo contra a sedução", é o título da exposição patente na Biblioteca Municipal de Amarante. Dela destaco 2 frases bem exemplificativas do pensamento da altura em relação às mulheres e ao seu papel na sociedade e na família. E será só da altura?


"As mulheres não compreendem que não se atinge a felicidade pelo prazer, mas sim pela renúncia."

Excerto de um discurso de Salazar sobre a Família e a posição da mulher dentro da mesma.



"Embora sejas "doutora" ou ainda a estudar para isso, não tomes ares de "sabichona". Conserva-te simples, conversa como toda a gente. Interessa-te por coisas femininas, não renuncies à "graça" que prende os corações. A namorada demasiado intelectual não é preferida para o rapaz que pensa casar."

Excerto de um artigo duma revista, na época do Estado Novo, com o sugestivo título:
"Gostas de agradar?
"Pretendes casar?"





quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Ir para fora, cá dentro: Douro acima

(rio Côa e lá ao fundo a malograda e inacabada barragem que iria afogar as pinturas rupestres)



Cumpriu-se um sonho de um amigo.


Paisagens lindíssimas!


Pessoas com uma hospitalidade inexplicável, aPaix(a)onante!


Muito por descobrir e explorar!



(ponte da extinta linha do Côa)



Abandono e falta de civismo, também!

(carruagem antiga graffitada na estação do Peso da Régua)





(Para quem queira ter ideias de percursos para descobrir Portugal, o serviço de Intra-rail dos Caminhos de Ferro de Portugal é um bom ponto de partida).



Vale muito a pena apanhar o comboio e ir Douro acima!


"O Douro necessita de ser finalmente olhado pela Nação como o seu olimpo sagrado."
Miguel Torga


quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Fotos

Por agora, deixo simplesmente na blogosfera 2 fotos...







domingo, 5 de agosto de 2007

(Re)descobrir Amarante (III)




Olhei muitas e muitas vezes para este brasão de Amarante, esculpido e cuidadosamente mantido, nesta sempre verde relva, enquanto esperava pelo meu pai, para ir almoçar a casa.


Esta representação do brasão encontra-se debaixo do início do tabuleiro da Ponte Nova, ao pé do mercado municipal e do antigo parque de campismo. Ali à volta, nos fins de semana de bom tempo, juntam-se muitas excursões que conferem um colorido diferente ao centro da cidade, animadas pela discoteca ambulante de quem tenta ganhar uns trocos e fazer pela vida. Já hoje ouvi o seu som a navegar pelo ar...







Para uma descrição mais pormenorizada sobre o brasão, ficam aqui as informações que retirei do site da Câmara Municipal de Amarante:





Brasão - De vermelho, leão rampante de prata, empunhando na dextra um feixe de três setas de prata, atados por uma fita de ouro perfilada de negro, sustido por uma ponte de prata de três arcos, ameada, perfilada e lavrada de negro, movente dos flancos e sainte de um ondado de prata e azul em ponta. O escudo circundado pelo colar da Ordem da Torre e Espada. Coroa mural de cinco torres de prata. Listel branco, com os dizeres a negro Amarante.









sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Onde





estás,





ALICE?

terça-feira, 24 de julho de 2007

(Re)Descobrir Amarante (II)

(Ponte de S. Gonçalo)



Conta a "Pequena História de Amarante", já anteriormente citada no 1.º post, que quando S. Gonçalo começou a pregar em Amarante se deparou com um local dividido por um rio, inóspito e desabitado. Então o padre pregador, tendo pena daqueles que o queriam ouvir e tendo em conta que o único meio que podiam utilizar era o barco, resolveu construir uma ponte. Na verdade, o pregador viajado já tinha trabalhado noutras pontes. A construção terá começado por volta de 1250, sendo a primeira ponte aqui lançada, apesar de se falar numa antiga ponte romana, não havendo, contudo, indícios históricos nesse sentido.
Um baixo relevo decorativo existente na Igreja de S. Gonçalo, no alto da Nave Central (ficando aqui a promessa duma futura foto sobre esse relevo), representará esta primeira ponte, todavia a ponte seria, com certeza, diferente, na medida em que o santo não tinha necessidade de construir uma ponte com ameias e uma torre para defesa e portagem.
Esta ponte desmoronou-se no dia 10 de Fevereiro de 1763. A dita ponte tinha um cruzeiro a meio com a Senhora da Boa Passagem. Este foi retirado da ponte uma hora antes do desmoronamento, tendo sido colocado, posteriormente, na janela dum recanto da Igreja (para quem vem da ponte, está logo em frente!), ficando assim a proteger o trânsito (a bem conhecida imagem da Senhora da Ponte.)
A segunda ponte (a actual) só começou a ser construída no princípio de Julho de 1782, quando se obteve autorização para demolir o restante da outra ponte, sendo a travessia entre as duas margens efectuada por barco. No dia 5 de Setembro do mesmo ano, assentaram-se as primeiras pedras, às 15h, tendo vindo a imagem de S. Gonçalo em procissão, com grande afluência do Povo, Clero e Nobreza. Abriu ao trânsito em 1790, como consta do medalhão esculpido na pedra da pirâmide do lado direito de quem sai de S. Gonçalo para a ponte.
Curiosidades sobre a construção:
  • Mestre Construtor da ponte: Francisco Tomás da Mota (natural de Braga), tal como se encontra gravado na pedra do parapeito da ponte, do lado direito de quem vem de S. Gonçalo;
  • Até foi noticiada a mestria do construtor na Gazeta de Lisboa, em 16 de Setembro de 1788;
  • Em 1791 acrescentaram-se as 4 artísticas pirâmides;
  • A ponte foi paga com verbas dadas por todas as Câmaras dos concelhos vizinhos, com a receita dos barcos durante os 27 anos em que não houve ponte e com as multas aplicadas aos donos dos gados que invadiam os terrenos alheios. O Governo de D. Maria não subsidiou nada!
  • A ponte custou 26 938 mil réis.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Porto(s) de Vista para a RTP


3 fotos



3 décadas


PARABÉNS RTP!!!



Como sempre nos (falamos por nós - White Castle e Duarte - mas entendemos ser a opinião generalizada dos leitores do Tretas) proporcionou óptimos desafios, neste dia que é seu, tenha também o prazer de poder resolver portos de vista ;)






foto 1






foto 2





foto 3



quinta-feira, 19 de julho de 2007

(Re)Descobrir Amarante (I)

(Perpectiva do centro de Amarante, a partir da "Ponte Nova". Lá ao fundo, a Ponte de S. Gonçalo, a Igreja de S. Gonçalo, a Biblioteca Municipal. Do lado esquerdo, vê-se a Rua 31 de Janeiro, onde encontramos várias confeitarias típicas e muito afamadas (aí se encontrava a famosíssima Lailai, pela qual muitos, ainda hoje, perguntam). Destaco, ainda do lado esquerdo da imagem, ao pé do prédio bege, um pequeno jardinzinho, com dois bancos, onde passei tantas tardes que recordo com muito carinho. A quem for a Amarante, aconselho a sentar-se naqueles bancos, olhar em frente, inspirar e contemplar o passar sereno do Tâmega. É fantástico! Rejuvenescedor!)

Inicio hoje a 1.ª rubrica deste meu espaço, cujo objectivo é dar (-me) a conhecer a cidade que me viu crescer (não muito, falando verdade ;-) Lol): Amarante. Com esse propósito, colocarei fotos da minha autoria, discorrendo, de seguida, sobre o seu conteúdo.


Comecemos, então, por uma breve descrição de Amarante. Esta pertence ao distrito do Porto, sendo que o concelho estende-se por uma área de 301,5 quilómetros quadrados, a que correspondem, hoje, 40 freguesias, 18 ao longo da margem direita do rio Tâmega e 22 da margem esquerda, habitadas por uma população de 59 638 habitantes e uma densidade populacional de 197,8 habitantes por quilómetro quadrado.


Tudo indica que Amarante deve a sua origem aos povos primitivos que demandaram a serra da Aboboreira (habitada desde a Idade da Pedra), embora se desconheça com exactidão o nome dos seus fundadores. Contudo, refere Luís Van Zeller Macedo, no seu livro "Pequena História de Amarante"que, "ao contrário do que possa supor-se, o conjunto de habitações, constituindo um Burgo a que chamaram Amarante, por ser aquém ou ante-Marão, não correspondia à área urbana actual da Cidade, mas sim a outra, um pouco ao Norte e a Poente desta, mais propriamente à actual área da paróquia de S. Veríssimo." Segundo o autor, este burgo já constava, em 1250, nas Ordenações Afonsinas, com a denominação de Vila de Amarante.


  • Destaques: No Centro Histórico da cidade merecem referência a Ponte, o Convento e Igreja de S. Gonçalo, as Igrejas de S. Pedro e S. Domingos, a Casa da Cerca e o Solar dos Magalhães. Fora da urbe, o destaque vai para os Paços do Concelho de Santa Cruz de Riba Tâmega, o Mosteiro de Travanca e para o românico das igrejas de Mancelos, Jazente, Freixo de Baixo, Gatão ou Gondar.

  • Festas da Cidade: Festas em honra de S. Gonçalo (o padroeiro da cidade), acontecem no 1.º fim de semana de Junho.

  • Feriado Municipal: 8 de Julho (Amarante tornou-se cidade a 8 de Julho de 1985)

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Eleições em Lisboa

Atalharei aqui umas breves conclusões que retiro destas eleições intercalares em Lisboa (ordem aleatória):


  • A grande abstenção - na minha opinião, deve-se à descrença e alheamento da população em geral, eles falam, falam, e não dizem nada (eu própria confesso a minha descrença, que contrasta com uma crença tão ingénua e tão inflamada que tinha outrora); E desta vez nem o tempo pode ser grande desculpa, porque não convidava a banhos de sol. - Não vale a pena votar, é tudo o mesmo, é o que muitos pensam, não só em Lisboa, mas por este nosso Portugal...
  • As votações das candidaturas independentes - Ligada à descrença que anteriormente referi, acrescento a descrença nas máquinas partidárias, a que muito tem ajudado o "efeito bufaria" do qual muito se tem falado! "Só um partido ficou à nossa frente!" - referiu entusiasticamente Carmona Rodrigues. Candidaturas independentes parecem significar clareza, independência quanto a "jeitinhos políticos", trabalho, competência, discussão de ideais. E sem dúvida, estes independentes têm sido uma grande pedra no sapato .... a troco de acusações de traição ao seu partido.
Pergunto eu: o que significa essa lealdade ao partido?
  • Derrota do PSD, no fundo, não tão inesperada quanto isso; e mais uma desculpa para degolar Marques Mendes.
  • O PP terá de rever a sua mensagem politíca e, não é por um estilo aparentemente mais leve do candidato que essa situação se vai resolver, nem por demissões (injustificadas e por impulso?) em catadupa...
  • Vitória fraca do PS (apesar de ter obtido uma votação distante do 2.º lugar), não deixando todavia de ser fraca. Segundo Candidato Independente a baralhar as contas ao PS... (efeito independentocracia vs partidocracia)
  • Uma realidade a que não se tem dado muita atenção, tem que ver com a votação do PNR. E citando o comunicado de imprensa do PNR no seu site: "Nesta eleição intercalar, marcada pela abstenção histórica de 63%, o Partido Nacional Renovador foi o único partido que conseguiu duplicar o número de votos obtido nas autárquicas de 2005. Percentualmente, cresceu de 0,3% para 0,8%. Valores decerto insignificantes para os grandes partidos do sistema, mas que demonstram o crescimento sustentado da opção nacionalista."
  • Temo que António Costa adira à moda da música hit de Ruth Marlene: "Ele(s) vira(m) para a esquerda, e pisca pisca! Ele(s) vira(m) para a direita e pisca, pisca! Anda(m) para aí a virar, para ver se arranja(m) conquista, é o que está a dar e que veio para ficar, a moda do pisca-pisca" ................ Será?? Pelo menos já "donzelas" se puseram a jeito!
  • 'Bora fazer uma excursão à mouraria apoiar "alguém", e receber uma bandeirazita e mostrar a nossa ignorância aos jornalistas da TV?? Seria um Domingo bem passado...
- Conclusão final: Independentemente da cor partidária e de gostos e (des)gostos, e apesar de não ser alfacinha/moura (o que é uma benção!!), espero que o recém eleito desempenhe um bom trabalho!

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Bufos I

A internet é um admirável mundo novo se a soubermos explorar correctamente! Abre-nos muitas portas e aproxima-nos de pessoas que, de outra forma, seria impossível!
Ganhei o hábito de, diariamente, (ou quase) pesquisar na comunidade blogosférica. Através do blog Tretas&Letras, cheguei ao blog Do Portugal Profundo (o blog que desencadeou a polémica sobre a licenciatura (?) do nosso Primeiro-Ministro) e ao blog de Pedro Namora. Acho que só agora me apercebi da verdadeira dimensão deste novo meio/modo/forma de divulgar informações e de comunicar, porque se antes me reduzia a um âmbito algo local, tive a perfeita noção da dimensão nacional e internacional da "força blogosférica".
Já tinha visto blogs com 40, 50 comentários, mas nunca com centenas e milhares deles, o que prova que naquele "sítio" (estando eu a referir-me ao 1.º blog citado) confluem uma imensidão de pessoas, fora os que não comentam e lêem piamente as letras binárias através dum monitor. A propósito dum post sobre a constituição do blogger como arguido num processo de difamação devido à queixa-crime intentada pelo "primeiro-ministro enquanto tal e cidadão" José Sócrates ( o título do post é: "Não tenhamos vergonha... actualizado", 05/07/2007 ), na caixa de comentários assistimos a um desenrolar de opiniões, umas mais interessantes que outras, quer sobre o Estado de Direito, a liberdade de expressão e de opinião, as palavras "acertadas" de membros do Governo, ou ligados ao Governo...
De todos eles, transcreverei as palavras duma pessoa que se identifica como Vento Ibérico (mais não posso dizer, porque, de facto, mais informações não possuo...):


" Bufo volta a ser a figura primordial do sistema. Abençoado Bufo que bufa para ganhar o seu. O Bufo anda munido de telemóvel de última geração, grava conversa, tira fotografia e filma. O Bufo evoluiu, cresceu, aprendeu e juntou o sorriso maquiavélico de democrático fingido. O Bufo ouve canções do Zeca e afins, tem sempre palavras de Abril na boca. O Bufo é amigo, diz que gosta da democracia e é uma espécie de orador culto, falando de cultura alegremente e alegremente cínico não aceita opiniões diversas. O Bufo é progressista, defende o progresso - diz ele- sempre que faz discurso. O Bufo é assim, cresceu, reproduziu-se e deu aos descendentes a cartilha que a bufaria deve usar."


Portanto, até o bufo evoluiu com as novas tecnologias... Big brother is watching you...

La Féria ... só mais uma vez...

Pelo que parece, Filipe la Féria não se apercebeu do que disse num outro programa da manhã, (a que já me referi num post anterior), porque voltou a falar na percentagem de pessoas do Norte que tem no elenco do Jesus Cristo Super Star (86% - os cálculos foram feitos, pergunto-me por que razão, hummmm....), e do talento que encontrou no Norte (com o mesmo ar eufórico), num outro programa da manhã, num canal concorrente! Arrisco-me a dizer que numa próxima vez que fizer zapping vou ouvir a mesma coisa e a mesma percentagem! Enfim...

terça-feira, 3 de julho de 2007

O tema quente de hoje + um desabafo

E qual é o tema quente de hoje? Qual é??

1ª opção: asneiras dos ministros do nosso "Engenheiro" Sócrates??

Resposta: NÃO! (isso já é tão corriqueiro que nem chega a ser quente!)

2ª opção: atentados por esse mundo fora??

Resposta: NÃO! (isso também já não mexe muito com o espectador dos jornais televisivos!)

3ª opção: Caso da "pequena Maddie"??

Resposta: NÃO! (desse tema já se fala há 2 meses...)

4ª opção: A cor das camisolas do equipamento alternativo do Benfica, o cor de rosa bebé, como lhe chamam??

Resposta: SIM!! (É incrível, mas sim!)


Breves notas sobre este tema tão relevante, que põe ao canto todas as necessidades impreteríveis do nosso Portugal:

1.º - Comentário da taróloga Maya sobre isto: "O cor de rosa tira força, vigor e preserverança ao Benfica" (informação baseada em estudos de Cromoterapia) - O meu comentário: não é a cor que lhe tira isso tudo, mas enfim... (eu acho que vou deixar de usar cor de rosa!!! Fiquei mesmo assustada!!!! Oh não, tenho as unhas pintadas de cor de rosa, vou já buscar acetona!);

2.º - Comentário de uma cantora da nossa Praça: Ai que os jogadores ficam um bocado "abichanados" (isto num programa emitido à tarde);

3.º - E vai-se para a rua, com jornalistas a perguntar aos adeptos o que acham disto (enfim, desperdício de meios, depois queixam-se...

4.º - Se o objectivo era chamar à atenção, como parece que era, chamaram...

5.º - Vivemos mesmo num país que sofre de futebolite aguda e que até discute o tema do equipamento alternativo dum clube de futebol (sublinhe-se alternativo!);

6.º - E eu embarco neste ambiente, porque estou a gastar caracteres a falar disto... Enfim...


Desabafo

Abordando outro tema, cheguei à conclusão que não me revejo nesta nova rima de adolescentes que profere frases feitas à Morangos com Açúcar e outras atitudes que agora não me apetece escrever... (são mesmo novos tempos! E eu ainda tão nova!)


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sábado, 30 de junho de 2007

O Livro Negro .... e Miguel Torga



Tenho imenso orgulho no Cineclube de Amarante! Se é verdade que os filmes demoram a cá chegar, também é verdade que se mais não fazem é porque não podem e porque também os amarantinos não dão tanto valor como deviam a este grande serviço de cultura!
E na passada sexta-feira fui ver um filme que já queria ver há muito tempo: O Livro Negro. Ia com grandes expectativas, que não foram goradas. De todo! Aconselho vivamente e destaco uma frase, que devia servir de ensinamento a todos os líderes do mundo e a todos os comuns mortais:


Na parte final do filme, após a vitória dos Aliados, os holandeses festejam a sua libertação e prendem, escarnecem os vencidos, ajuntam-nos, tratam-nos como porcos, maltratam-nos, humilham e despejam neles os seus dejectos. No meio deste "arraial" de mediocridade, surge alguém da Resistência (Dr. Hans) que lhes diz:

Vocês são tão maus como os nazis!


E como esta frase resume tanto... E como devíamos aprender com ela...


(Ah, e fiquei fã de Sebastian Koch, também na imagem)



Adolfo Correia Rocha
Médico especialista
Ouvidos, Nariz e garganta
largo da Portagem, 45 - 1.º, Coimbra


Assim era o cabeçalho das receitas do conhecido escritor transmontano Miguel Torga!



Esteve em exibição até hoje(melhor dizendo ontem, tendo em conta a hora a que estou a escrever), na Biblioteca Municipal Albano Sardoeira, em Amarante, uma exposição comemorativa dos 100 anos do nascimento de Miguel Torga. Este nasceu a 12 de Agosto de 1907, em S. martinho de Anta. Só tenho de dar os meus parabéns a esta exposição, que vai correr algumas cidades do país! Desde as suas obras, rascunhos, fotografias, fitas, diploma de licenciatura, cartas que demonstram a perseguição do Antigo Regime. Muito havia para ver e saborear, palavras deliciosas, que nos fazem querer sair daquele edificio, pegar numa mochila e descobrir as fragas de Portugal. Admito, dos 3 poetas contemporâneos que estudei no 12.º ano, foi de Miguel Torga que mais gostei. talvez por falar no meu Marão que sempre que estou em casa vejo, talvez por sentir nele a força duma natureza próxima... Desta exposição deixo ficar uns excertos que escrevinhei para mais tarde recordar: o primeiro tem que ver com o que falei em cima, o segundo, achei curioso, como praxista e como amante da minha capa negra!


"E é isso que me penaliza e assombra: que a intolerância possa constituir um modo de vida!"


"8 de Dezembro de 1933 - Conforme a tradição, mal o bedel disse que sim, que os lentes consentiam que eu receitasse clisteres à humanidade, conhecidos e desconhecidos rasgaram-me da cabeça aos pés. Só deixaram a capa. E aí vim eu pelas ruas fora, o mais chegado possível à minha própria realidade: um homem nu, envolto em 3 metros de negrura, varado de lado a lado por um terror fundo que não diz donde vem nem para onde vai." - Diário I, 1941

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Ups!!!...


Hoje o Você na Tv, que muito alegremente festejava o S. João no Porto, proporcionou um momento deveras curioso! Com o seu palanque na Praça D. João I, à frente do Teatro Rivoli que ostenta o novo musical, Jesus Cristo Super Star, depois de uma breve actuação do Judas da peça, muito enforicamente, diz o Sr. Filipe La Féria, mais ou menos isto:


Eu fiquei muito espantado, nunca pensei que houvesse tanto talento no Porto, tanto que o elenco é 86% do Porto!




Ups!!!!

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Mudança de paradigma?

Na Quarta-feira à noite deu uma reportagem sobre os novos hábitos masculinos e sobre os seus cuidados especiais com a sua aparência. Sobre isto já tenho tido um conjunto de debates, alguns até mais inflamados, e vou expressar aqui uma opinião sobre um tema em concreto: a maquiagem.
A maquiagem serve para realçar a nossa beleza, aperfeiçoando características, disfarçando outras... É também uma forma de arte, tendo de se adequar ao género da pessoa, às circunstâncias, entre outras situações.
Ora, por que não hão-de os homens de se valorizar neste aspecto? Porque não utilizar base ou um lápis discreto nos olhos? Já não digo sombras espampanantes, mas um risco de lapis debaixo do olho pode beneficiar tanto um olhar... Será isso retirar a masculinidade? Já antes os homens se maquiavam, depois caiu em desuso e agora é sinónimo de "tendência sexual desviante" ou de atitude excêntrica por parte de artistas. Não creio que se deva pensar assim! E há homens que maquiados ficariam tão melhores que mulheres...

Fica a "provocação"...

segunda-feira, 11 de junho de 2007

No dia 10 de Junho..... de 1910




Ontem foi dia de Portugal, 10 de Junho, um feriado domingueiro.

Apanhei o vício de ir ver o que Fernando Pessoa escreveu ao longo dos dias de cada ano, recorrendo à minha "Bíblia" de Poesia 1902-1917, da Assírio e Alvim e encontrei o seguinte poema:





"Ó naus felizes do mar vago
Voltais enfim ao silêncio do porto
Quando é na tarde a tarde irreal,
Meu coração é um morto lago
E à margem triste do lago morto
Sonha um castelo medieval.

E nesse onde sonha castelo triste
Nem sonha saber, a de mãos formosas
Sem gesto ou cor, triste castelã
Que um porto além rumoroso existe
De onde as naus negras e silenciosas
Se partem antes de ser manhã.

Nem sequer pensa que há o onde sonha
Castelo triste; seu esp'rito monge
Para nada externo é vivo e real;
E enquanto ela assim esquecida vagueia tristonha
Regressam tristes do mar ao longe
As naus ao porto medieval."




(Foto tirada num dos meus sítios favoritos no Porto)


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quarta-feira, 30 de maio de 2007

E um livro se fechou...




Estava grávida! Era um milagre que lhe tinha sido negado pela ciência após um aborto passado (espontâneo ou provocado, não se sabe), como se o seu corpo negasse a divisão, e a culpasse por esse acontecimento. Não esperava poder jamais ter essa alegria, poder tocar a sua barriga e sentir um ser pequenino a crescer dentro dela, ter de o proteger do mundo cá de fora, cantar para ele, embalá-lo com histórias belas, empaturrá-lo de mimos. Tinha sido mãe jovem, e agora adulta encorpada, sem poder sequer ter ambições, tinha ganho o privilégio de poder voltar a ser mãe! Era um milagre, um presente divino que a fez sorrir para o mundo e pelo qual estava a disposta a lutar contra todos e contra tudo! Não abdicaria dele…

A descoberta deste presente foi pessoal, num quartinho pintado de cor de rosa pelos seus sonhos, em que bailavam sorrisos, olhos lacrimejantes, roupinhas pequeninas e tão bonitinhas, berços, papas, guizos, escola, faculdade… Tudo ela tinha construído naquele momento, em que o seu coração cresceu, em que o mundo lhe pareceu definitivamente um sítio de esperança, onde tanto podia (ainda) fazer! Ergueu-se gigante, decidida! Mas…

O seu companheiro não aceitava a criança, atirou-lhe à mente a culpabilidade do suposto não poder engravidar! Aquela criança tão inesperada e, por isso, tão mais desejada, era um entrave, um obstáculo, um infortúnio, um azar, fruto de uma mentira médica! Não, não queria e não assumia a criança! Não a queria, como se ela fosse um objecto que facilmente se pode deitar ao lixo! Empalideceu, sentiu-se enfraquecer, teve medo, pelo seu bebé, seu só seu, naquele momento. Apertou forte o seu seio e, naquele momento, prometeu solenemente protegê-lo! Serás feliz, serás amado!

Largou o emprego onde trabalhava há 10 anos, e onde estava constantemente com o seu “companheiro”. Saiu de “sua” casa. Largou uma relação. Largou a sua terra. Partiu, buscando conforto na casa de sua filha, mãe também jovem, casada com os seus juvenis 19 anos. Foi recebida de braços abertos, seria uma companhia para a filha e, junto ao neto, esperaria, descansadamente, afastada da maldade, o seu filho-milagre. Não parava de sorrir, tirava muitas fotografias para lembrar este momento. Tinha todos os cuidados e mais alguns, como se de um copo de cristal frágil se tratasse. Escrupulosamente seguia todas as prescrições médicas.

Estava muito grávida, orgulhosamente pensava! Teve de se dirigir ao centro médico para uma ecografia. Como adorava estes momentos, em que via o seu bebé, o seu pequenino rebento, em que se embevecia pelo pulsar do seu coraçaozinho. E como se abrilhantaram os seus olhos quando o médico lhe disse que tudo estava bem, que podia ir descansada e passear pela cidade como tanto gostava de fazer depois destas visitas periódicas. Costumava sentar-se nos jardins, ver as pessoas passaram, olhar para os pais com as suas crianças, falar com as pessoas que a cumprimentavam e lhe perguntavam como estava a correr! Tinha rejuvenescido tanto! Sentia-se revigorada! Sentia que o mundo era novo! Sentia que estava a virar a página! E nesses momentos respirava fundo, muito fundo e depois, já tarde, ia para o seu lar…

Nesse dia, dirigia-se para a cidade, a pé, na berma da estrada, com os seus olhinhos a brilhar, com uma barriga pesada, mas que lhe tinha tornado tão leve a sua mente. Era uma recta no meio duma localidade, onde os carros passavam calmamente, adormecidos por uma tarde quente. Ia com cuidado, afastada do asfalto, como podia e devia. E…

Um carro, a grande velocidade, entontecido pela bebida, embate nela, fustiga-a, empurra-a e ela sente que já não pode proteger o seu bebé, o seu amado bebé! Sente o sangue, toca na barriga, cai em cima dela, como tentando protegê-la pela última vez. Sente-se morrer e sente morrer o que mais tinha querido nestes últimos tempos. Sente que a esperança morreu. Sente que o virar da página é a morte…

Uma senhora pára o seu carro! Foi lá atrás ultrapassada por aquele carro e viu o ziguezaguear mortal daquele carro e a fugida do mesmo para o horizonte! Felizmente tinha consigo o telemóvel, pediu socorro, mas só via sangue, e sentia uma revolta imensa, acentuada pela dor de também ser mãe.

A filha foi avisada por vizinhos. Correu para o hospital. Sucumbiu perante a morte da mãe, mas o agora seu bebé tinha sobrevivido! O milagre milagrosamente tinha sobrevivido! E ela trataria dele como seu filho e seria tão acarinhado, quanto foi amado na barriga da sua mamã assassinada. Contudo…

O bebé só sobreviveu um dia, a filha voltou a sucumbir, o seu coração rompeu-se em lágrimas…

A implacabilidade desta morte insensível, da qual a mãe tentou tanto salvar o seu bebezinho, conseguiu derrotá-la! Escarneceu dela, deu esperança à sua filha de ao menos ficar com o seu rebento-irmão! Ao tentar salvá-lo(s), jazeu morta num asfalto quente e respirou o pó da terra… O seu bebé não resistiu, quiçá não conseguiu conceber a sua vida sem o ente que mais o desejou…

A morte escreve “certo” por linhas tortas! Um trajecto enviesado matou um sonho e fechou um livro que tinha tanto para dar…

E faltavam 10 dias para dar à luz!


(Este texto é baseado nos depoimentos da filha e da senhora que socorreu a mãe grávida e que foi atropelada na berma da estrada por um condutor a alta velocidade, em 12 de Abril deste ano, em Almancil, prestados no programa “As tardes da Júlia”, no dia 29 de Maio).